Declaração da SALSA pedindo-lhe para vetar o Projeto de Lei no 2.903/2023 Marco temporal (10-8-23)
Declaração da SALSA
Carta a Lula pedindo-lhe para vetar o Projeto de Lei no 2.903/2023
Octubre 8 de 2023
[Español abajo / English below]
Veja a Carta assinada
Excelentíssimo Senhor Presidente:
A Sociedade para a Antropologia das Terras Baixas da América do Sul (SALSA), uma organização acadêmica internacional composta por professores, estudantes e pesquisadores, junta-se à voz de indígenas que protestam contra o Projeto de Lei no 2.903/2023, que foi aprovado pelo Congresso Brasileiro em um voto que ignora a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e viola a Constituição. Pedimos ao Senhor Presidente que mantenha seu compromisso com os povos indígenas do Brasil e não permita que essa legislação se torne lei. Solicitamos, para tanto, que Vossa Excelência vete este Projeto de Lei, pelos graves riscos que apresenta para os direitos dos povos indígenas no Brasil.
A Tese do Marco Temporal foi derrubada e declarada inconstitucional no dia 21 de setembro, pelo Supremo Tribunal Federal, com um incrível placar de 9 votos contrários a apenas 2 a favor. O resultado se deve prioritariamente às mobilizações indígenas na praça em Brasília, nas ruas de muitas cidades, e em suas aldeias, comunidades e Terras Indígenas. Foi uma mobilização massiva, impressionante também porque foram muitas as agendas, e muito modificadas, para a votação acontecer. A vitória é também fruto do trabalho direto feito por membros do primeiro Ministério dos Povos Indígenas no Brasil, em especial da Ministra Sônia Guajajara e do Secretário Executivo Luiz
Eloy Terena, advogado, que se reuniram com diversos ministros do STF para lhes explicar a importância da matéria sendo votada. O julgamento pelo STF surge de um processo iniciado pelo povo Xokleng-Laklãno, do Sul do Brasil, que foi o primeiro a se ver confrontado com essa tese em sua demanda pela demarcação de uma Terra Indígena para seu povo. A primeira vitória, portanto, é deles, e as imagens na mídia nos permitiram testemunhar sua emoção e seu alívio.
No entanto, a tese continua em votação nos Parlamentos, onde a Deputada Federal Célia Xakriabá tem lutado firmemente, apesar de muitas ameaças (a principal, a de perder seu mandato, em um processo coletivo que envolve outras Deputadas mulheres, e pelas reações a seu inovador conceito de “genocídio legislado”). Dado que a votação pelo Congresso não foi anulada pelo resultado do STF, que demonstra sua inconstitucionalidade, este ainda poderá voltar a ser acionado.
Se o Marco Temporal se mantiver em qualquer versão, ele pode não só impedir novas demarcações de Terras Indígenas, já que sua proposta é de reconhecer apenas territórios ocupados ou em demanda de demarcação no ano da promulgação da Constituição de 1988, desconhecendo as violências histórias sofridas por esses povos, inclusive os muitos deslocamentos forçados, direta ou indiretamente, como mesmo rever e revisar Terras Indígenas já demarcadas.
Assim, a SALSA se une ao movimento indígena em oposição ao PL# 2.903/2023 e pede ao Exmo. Sr. Presidente vetar esta legislação pelos graves riscos que apresenta para os direitos dos povos indígenas do Brasil. Essa lei coloca em risco a vida, o território e a esperança dos povos indígenas, e a própria existência dos biomas em que vivem e de que cuidam. Como sociedade científica, nos colocamos à disposição para debater, divulgar, e apoiar no que for necessário nos andamentos futuros deste processo para a garantia desses direitos conquistados.
Respeitosamente,
Laura R. Graham, Presidenta da SALSA
[expand title=”Carta a Lula pidiéndole vetar el Decreto de ley no 2.903/2023″ tag=”h2″]
Ver la Carta firmada
Su Excelencia Señor Presidente:
La Sociedad de Antropología de las Tierras Bajas de América del Sur (SALSA), organización académica internacional integrada por profesores, estudiantes e investigadores, se suma a la voz de los pueblos indígenas que protestan contra el proyecto de ley N° 2.903/2023, aprobado por el Congreso de Brasil en una votación que ignora la decisión del Supremo Tribunal Federal (STF) y viola la Constitución. Pedimos al Presidente que mantenga su compromiso con los pueblos indígenas de Brasil y no permita que esta legislación se convierta en ley. Por lo tanto, solicitamos que Su Excelencia vete este proyecto de ley, debido a los graves riesgos que presenta para los derechos de los pueblos indígenas en Brasil.
La Tesis del Marco Temporal fue revocada y declarada inconstitucional el 21 de septiembre por el Supremo Tribunal Federal, con una increíble margen de 9 votos en contra por sólo 2 a favor. El resultado se debe principalmente a las movilizaciones indígenas en la plaza de Brasilia, en las calles de muchas ciudades y en sus pueblos, comunidades y Tierras Indígenas. Fue una movilización masiva, impresionante también porque había muchas agendas, y muy modificadas, para que se llevara a cabo la votación. La victoria es también resultado del trabajo directo de los miembros del primer Ministerio de los Pueblos Indígenas de Brasil, especialmente la ministra Sônia Guajajara y el secretario ejecutivo Luiz Eloy Terena, abogado, que se reunieron con varios ministros del STF para explicarles la importancia de asunto que se está votando. La sentencia del STF surge de un proceso iniciado por el pueblo Xokleng-Laklãno, del sur de Brasil, que fueron los primeros en enfrentarse a esta tesis en su demanda de demarcación de una Tierra Indígena para su pueblo. La primera victoria, por tanto, es de ellos y las imágenes difundidas en los medios de comunicación nos permitieron constatar su emoción y alivio.
Sin embargo, la tesis sigue siendo votada en los Parlamentos, donde la diputada federal Célia Xakriabá ha luchado, firmemente y a pesar de muchas amenazas (siendo la principal la de perder su mandato, en un proceso colectivo que involucra a otras diputadas mujeres, y por las reacciones a su innovador concepto de “genocidio legislado”). Dado que la votación del Congreso no fue anulada por el resultado del STF, lo que demuestra su inconstitucionalidad, todavía podría desencadenarse nuevamente.
De mantenerse el Marco Temporal en alguna versión, no sólo podrá impedir nuevas demarcaciones de Tierras Indígenas, ya que su propuesta es reconocer sólo territorios ocupados o en demanda de demarcación en el año de promulgación de la Constitución de 1988, ignorando la violencia histórica sufrida por estas personas, incluidos los numerosos desplazamientos forzados, directos o indirectos, sino también podrá implicar la revisión y revocación de las Tierras Indígenas que ya han sido demarcadas.
Así, SALSA se suma al movimiento indígena de oposición al PL# 2.903/2023 y solicita al Excelentísimo Señor Presidente, vete esta legislación por los graves riesgos que presenta para los derechos de los pueblos indígenas de Brasil. Esta ley pone en riesgo la vida, el territorio y la esperanza de los pueblos indígenas, y la existencia misma de los biomas en los que viven y que cuidan. Como sociedad científica estamos disponibles para debatir, difundir y apoyar lo que sea necesario en el futuro avance de este proceso para garantizar estos derechos conquistados.
Respetuosamente,
Laura R. Graham, Presidenta de SALSA
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[expand title=”Letter to Lula asking him to veto Bill No. 2,903/2023″ tag=”h2″]
See the Signed Letter
Your Excellency Mr. President:
The Society for the Anthropology of Lowland South America (SALSA), an international academic and professional organization comprised of professors, students and researchers, joins the voices of Indigenous people protesting against Bill No. 2,903/2023, which was approved by the Brazilian Congress in a vote that ignores the Superior Court’s decision and violates the Constitution. We ask you to maintain your commitment to the Indigenous Peoples of Brazil and not allow this legislation to become law. We therefore request that Your Excellency veto this Bill, due to the serious risks it presents to the rights of Brazil’s Indigenous Peoples.
The Temporal Framework (Marco Temporal) Thesis was overturned and declared unconstitutional on September 21st by a decisive majority in the Federal Supreme Court (STF): nine votes against versus two in favor. The Court’s decision results primarily from Indigenous protests against the Marco Temporal throughout the country, from Brasília and other major cities to rural communities and Indigenous territories. Solidarity in opposition to Marco Temporal is especially impressive due to the various legal interpretations put forward during the litigation process. The Court’s decision is a clear victory for Indigenous People’s rights, and is also the result of efforts carried out by Brazil’s newly-established Ministry of Indigenous Peoples, especially those of Minister Sônia Guajajara and Executive Secretary Luiz Eloy Terena, who met with several STF ministers to explain the importance of the matter. The decision by the STF arises from a process initiated by the Xokleng- Laklãno people of Southern Brazil, in their struggle for the demarcation of their Indigenous Territory. The first victory against the Marco Temporal thesis, in the form of the STF’s firm decision, therefore, is theirs, and the images in the media allowed us to witness the excitement and relief of the Xokleng-Laklãno.
The Marco Temporal thesis, however, continues to be a live matter in the legislature, where Federal Deputy Célia Xakriabá has fought firmly and in the face of many threats including one that resulted in the loss of her mandate due to mobilization against her and other female representatives in retaliation for her innovative concept of “legalized genocide.” Despite the fact that the STF’s decision affirms the unconstitutionality of the Marco Temporal, Congressional voting continues to move forward and the Marco Temporal thesis could yet be implemented.
If any version of the Temporal Framework is upheld, it may prevent new demarcations of Indigenous Lands, since it aims to recognize only territories occupied by Indigenous Peoples in 1988, the year Brazil’s Constitution was signed. The Marco Temporal ignores the historical violence suffered by the nation’s Indigenous Peoples, including innumerable instances of forced displacements from traditional territories. Any version of the Marco Temporal may also lead to the revision and potential revocation of Indigenous Lands that have already been demarcated.
Thus, SALSA joins Brazil’s Indigenous movement in opposition to PL# 2,903/2023 and asks Your Excellency, Mr. President Lula, to veto this legislation due to the serious risks it presents to the rights of Brazil’s Indigenous Peoples. This law puts the lives, territory and hope of Indigenous Peoples at risk. It also threatens the very existence of the biomes in which they live and that they care for. As a scientific society, we are committed and available to debate, publicize, and support whatever is necessary in the future progress of this process to guarantee these hard-won rights.
Respectfully,
Laura R. Graham, SALSA President
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Imagem: BNC Amazonas