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Kapiwaya: uma arte verbal linguisticamente enigmática

KapiwayaKapiwaya Alto Rio Negro

uma arte verbal linguisticamente enigmática na região do Rio Negro, noroeste da Amazônia

Workshop online, sábado, 7 de maio de 2022

Organizadores: Patience Epps, Emilio Frignati, Danilo Paiva Ramos

Online platform: https://utexas.zoom.us/j/97794557773
Program of the Workshop (English and Portuguese)

(English version below)

No contexto da grande diversidade linguística da bacia amazônica, é através do casamento, comércio, guerra e rituais que se dá a interação constante entre falantes de diferentes línguas. No entanto, é de acordo com o contexto social que variam consideravelmente as maneiras pelas quais suas línguas são impulsionadas e manipuladas, tanto dentro como entre as regiões. Assim, a Amazônia pode ser considerada como uma região particularmente fértil para a mistura de línguas. Determinadas canções tradicionais associadas a rituais delineiam gêneros verbo-musical multilingues especialmente interessantes para essa mistura.  Esses repertórios de canções multilíngues são amplamente observados – entre os povos do Xingu (Brasil central; por exemplo, Basso 2009; Fausto et al. 2008:140-141; Mehinaku 2010), da região de Caquetá-Putumayo (sudeste da Colômbia; Guianas (por exemplo, Butt Colson 1973:49-52), e em outros lugares (ver Epps 2021, submetido). Em alguns casos, as músicas estão explicitamente associadas a determinados idiomas e grupos; em outros, esses repertórios são entendidos como tendo uma origem primordial e/ou não humana. Em geral, a análise dessas canções rituais multilingues suscita uma série de questões do tipo: como esses repertórios de canções, multilíngues ou manipuladas linguisticamente, são compreendidos dentro dos sistemas indígenas locais de conhecimento, de acordo com ontologias particulares de linguagem, fala e música, associando-se com diversas esferas sociais e existenciais, etc? Como esses textos são construídos linguisticamente, em termos de empréstimo, mistura e/ou alteração de palavras, frases e outras estruturas e formas? Em que medida o compartilhamento e/ou manipulação da forma linguística dentro dos textos das canções corresponde à música, estrutura textual, elementos artísticos e performativos e a outros elementos de conhecimento e prática? Como as músicas são aprendidas e executadas, por quem e em que contextos? O que esses repertórios de canções podem nos dizer sobre as histórias indígenas – quais povos atuaram como fontes de canções, quais foram destinatários e como essas trocas se desenvolveram ao longo do tempo? E como esses repertórios são compreendidos de forma variável pelos diferentes grupos que os praticam?

Neste workshop, procuraremos lançar um olhar para essas questões através das lentes da região do Rio Negro, no noroeste da Amazônia. Nesta região, onde os falantes de Tukano, Arawakan, Naduhup e outras famílias linguísticas interagiram por séculos, o kapiwaya (ou kaapiwaya) constitui um gênero de música amplamente conhecido e compartilhado entre muitos grupos linguísticos diferentes. Esse gênero desempenha um papel importante na manutenção contínua de relações (rituais) entre esses grupos, bem como com animais, espíritos e ancestrais. Embora alguns grupos da região tenham deixado de praticar ativamente o gênero, ele é tradicionalmente realizado por homens e está associado a contextos cerimoniais envolvendo dança, consumo de ayahuasca e outros elementos. As palavras das canções kapiwaya são amplamente enigmáticas para os falantes da(s) língua(s) da comunidade – representando uma espécie de “linguagem interétnica ininteligível” (Frignati nd: 3) – embora os mestres do gênero muitas vezes possam oferecer uma espécie de ‘tradução’ solta (Piedade 1997, Barreto 2019). Muitas dessas palavras enigmáticas se assemelham muito a palavras de línguas arawakanas regionais, e a muitos outros elementos (melodia, performance, etc.) 156, Frignati nd; ver também Hill 1993, Hugh-Jones 1994, Chernela & Leed 1996, Hill & Castrillon 2017).

O objetivo deste workshop é reunir um conjunto diversificado de perspectivas e experiências relacionadas à arte verbo-musical do kapiwaya e às práticas a ele relacionadas entre os povos da região do Rio Negro. Serão bem vindas contribuições que enfatizem questões linguísticas, etnográficas, antropológicas, historiográficas, dentre outras, na busca por um melhor entendimento dessa arte verbo-musical rionegrina. As palestras poderão ser apresentadas em português, espanhol ou inglês.

Caso tenha interesse em participar, envie um resumo de sua palestra/proposta (aprox. 500 palavras) para qualquer um dos organizadores até 5 de abril de 2022. Para participar do workshop sem apresentar um trabalho, entre em contato com os organizadores para que você possa ser adicionado à lista de pessoas que receberão o link e o programa.

Patience Epps: [email protected]; Emilio Frignati: [email protected]; Danilo Paiva Ramos: [email protected]/  [email protected]

[expand title=”Kapiwaya: linguistically opaque verbal art in the Rio Negro region, northwest Amazonia” tag=”h2″]

In the linguistically diverse context of the Amazon basin, speakers of different languages have long interacted regularly, coming together in marriage, trade, warfare, and ritual. Yet the ways in which their languages are leveraged and manipulated vary considerably according to social context, both within and across regions. Across Amazonia, a particularly robust site for language mixing involves song traditions associated with ritual practices. Such multilingual song repertoires are widely attested – among peoples of the Xingu (central Brazil; e.g. Basso 2009; Fausto et al. 2008:140-141; Mehinaku 2010), the Caquetá-Putumayo region (southeast Colombia; e.g. Echeverri 1997), the Guyanas (e.g. Butt Colson 1973:49-52), and elsewhere (Epps 2021, submitted). In some cases, the songs are explicitly associated with particular languages and groups; in others, they are understood to have a primordial and/or non-human origin. Across the board, they call up a range of questions: How are such multilingual or linguistically manipulated song repertoires understood within local Indigenous systems of knowledge, according to particular ontologies of language, speech, and music, their associations with diverse social and existential spheres, etc.? How are these texts constructed linguistically, in terms of the borrowing, mixing, and/or alteration of words, phrases, and other structures and forms? How does the sharing and/or manipulation of linguistic form within song texts correspond to that of music, textual structure, artistic and performative elements, and other elements of knowledge and practice? How are the songs learned and performed, by whom, and in what contexts? What can they tell us about Indigenous histories – which peoples have acted as sources of songs, which were recipients, and how these exchanges have developed over time? And how may these repertoires be variably understood by the different groups that practice them?

In this workshop, we take a focused look at these questions through the lens of the Rio Negro region of the northwest Amazon. In this region, where speakers of Tukanoan, Arawakan, Naduhup, and other language families have interacted for centuries, a song genre widely known as the kapiwaya (or kaapiwaya) is shared among many different language groups, and plays an important role in maintaining ongoing (ritual) relationships among these groups, as well as with animals, spirits, and ancestors.  While some groups in the region have ceased to actively practice the genre, it is traditionally performed by men (with a role for a single woman’s voice) and is associated with ceremonial contexts involving dancing, ayahuasca consumption, and other elements. The words of the kapiwaya songs are largely opaque to speakers of the community language(s) – representing a sort of “unintelligible interethnic language” (Frignati n.d.: 3) – although masters of the genre can often offer a sort of loose ‘translation’ (Piedade 1997, Barreto 2019). Many of these opaque words closely resemble words of regional Arawakan languages, and many other elements (melody, performance, etc.) of the kapiwaya genre also appear to have close parallels among Arawakan groups of the area (Brüzzi 1977, Piedade 1997: 154-156, Frignati n.d.; see also Hill 1993, Hugh-Jones 1994, Chernela & Leed 1996, Hill & Castrillon 2017).

The goal of this workshop is to bring together a diverse set of perspectives and experiences relating to the kapiwaya tradition and related practices among peoples of the Rio Negro region. We welcome contributions from linguistic, ethnographic, historical, and other perspectives. Talks may be presented in Portuguese, Spanish, or English.

If you are interested in participating, please send an abstract of your proposed talk (approx. 500 words) to any of the organizers by April 5, 2022. If you’d like to attend the workshop without presenting a paper, please contact the organizers so you can be added to the list of people who will receive the link and program.

Patience Epps: [email protected]; Emilio Frignati: [email protected]; Danilo Paiva Ramos: [email protected]/  [email protected]

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