ALQUIMIA NA FLORESTA, de M. Aparicio et al. (2023)
Alquimia na floresta
Os Suruwaha e os venenos
De Miguel Aparicio, Juliana Lins, Priscila Ambrósio Moreira, e o fotógrafo Paulo Mumia
Museu do Indio e UNESCO, 2023
Alquimia na floresta surgiu a partir de itinerários vegetais nas florestas do Jukihi, caminhadas na companhia de homens e mulheres suruwaha que nos guiaram por roçados (hadara), capoeiras (hadara husa), florestas de várzea (saraha) e de terra firme (kabani). Nos caminhos que se entrelaçam no seu território, o cuidado e conhecimento de espécies vegetais emergem junto a narrativas de tempos distantes e relatos contemporâneos que conduzem a lugares subterrâneos e celestes, mundos com outras versões das plantas, habitados pelos espíritos cantores kurimia e os espíritos das frutas da floresta, agabuji karuji. Durante aproximadamente 100 quilômetros de trilhas percorridos ao longo das nossas jornadas de convivência, Ania, Arihuina, Kwakwai, Naru e Xiriaki – entre outros – mostravam, em olhares e palavras, seu companheirismo com plantas que se enredavam com as suas vidas e as de seus parentes jadawa, os “humanos verdadeiros”.
Nesses encontros entre humanos e vegetais, os Suruwaha aparecem como autênticos alquimistas da floresta, com uma habilidade singular para lidar com plantas que possuem a qualidade zyka – substâncias que provocam ardência, acidez, toxicidade, calor, acridez, queimação. Plantas perigosas, que desafiaram as pessoas ao longo das gerações à procura de misturas, de temperos, com preparos antigos e formas inovadoras de processamento de seus venenos, postas em colaboração entre si e com os humanos. Sabíamos, a partir de experiências anteriores, do conhecimento que eles detinham no manejo do timbó kunaha e do tingui bakiama –seus venenos de pesca prediletos–, assim como das duas plantas que compõem o curare das flechas de caça – kaiximiani e xihixihi. Porém, os Suruwaha mostraram que os venenos mais usados hoje em dia foram selecionados entre outras plantas diversas, também com qualidade zyka: algumas abandonadas ao encontrar misturas mais poderosas, outras adquiridas há pouco tempo nas redes de conhecimento e intercâmbio do Kuniria, o grande rio Cuniuá que desce até o Purus de águas barrentas. A diversidade vegetal da floresta, de encontro com a ampla gama de práticas vividas, faz emergir a vitalidade do povo dos venenos.
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