Higino e a pedagogia Tuyuka: espancando a dor (6-28-20)
Higino e a pedagogia Tuyuka: espancando a dor
José Ribamar Bess Freire
6-28-20
“Maldigo el fuego del horno / Porque mi alma está de luto / Maldigo los estatutos
Del tiempo con sus bochornos / Cuánto será mi dolor”. (Violeta Parra, 1966).
O que Violeta Parra tem a ver com o Poani Higino Pimentel Tenório, 65 anos, contaminado mortalmente pelo coronavirus e sepultado domingo (21)? Sua longa agonia desde meados de maio foi por mim acompanhada através de sucessivas mensagens enviadas por Marivelton Baré, presidente da Federação da Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) e pela antropóloga Flora Cabalzar. Diante do sofrimento de Higino, idealizador da Escola Tuyuka, creio que entendi quanto é universal a dor, o desencanto e a impotência, ao ouvir a sirilla “Maldigo del Alto Cielo” gravada pela cantora chilena e que já prenunciava seu suicídio meses depois.
O canto de Violeta marcado por um estado de profunda depressão evoca o desespero ao contemplar a primavera com seus jardins floridos e perfumados, as estrelas reluzentes ou a imponência da Cordilheira dos Andes, cuja beleza agora causa sofrimento pela lembrança do bem perdido. A sua dor é tão dilacerante que, diferentemente do canto utópico de Armstrong – What a wonderful world – ela renega essa maravilha do mundo com tudo aquilo que lhe foi tão caro. Desesperança similar ao imaginar hoje um futuro para a humanidade sem a memória de cada sábio, de cada amigo querido que vai perdendo o oxigênio no leito de morte. Vidas que poderiam ter sido salvas.
Artigo completo: http://taquiprati.com.br/cronica/1530-higino-e-a-pedagogia-tuyuka-espancando-a-dor?fbclid=IwAR0xnqbjhVah0oV-YQX1uXs2hLcnjQBTDTlWYVfEx5WrslDnjHpiR7RuWNM