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Alexandre Aniceto de Souza

Alexandre Aniceto de Souza - Fundo de Investigação Whitten 2023-24

Alexandre Aniceto de SouzaAlexandre Aniceto de Souza

Universidade Federal do Amazonas-UFAM

Vencedor do Fundo de Investigação Norm e Sibby Whitten 2023-2024

Waiwai komo yîhcamnopura natu cehtoponhîrî komo krapa waiwî poko
Arco e flecha: Continuidade e transformações Waiwai

O local da pesquisa é na terra indígena Trombetas-Mapuera, na comunidade Jatapauzinho. Farei algumas reflexões sobre os saberes e técnicas que envolvem o lugar do krapa-waiwî (arco de flecha) entre os Waiwai. Vou falar não só dos usos, mas também dos processos de produção e transmissão de conhecimentos, da busca de materiais, dos domínios da floresta, dos elementos materiais e imateriais. Pretendo situar o lugar que esse artefato ocupa na visão de mundo dos Waiwai, utilizando o conceito de cadeia operatória como ferramenta metodológica para compreender e organizar as concepções Waiwai do passado e do presente em relação ao tema da pesquisa. Assim, pretende-se abordar o cotidiano desse coletivo em constante transformação, a partir de suas tecnologias, cosmologias, cosmotécnicas, visões de mundo e mitologias em torno do arco e flecha. Esses dispositivos incluem corpos invisíveis, como os Waiwai os descrevem. Os elementos utilizados e os cuidados que recebem para se tornarem o que são expressam partes de um todo coletivo, constituído por vários elementos e até por outros seres da floresta. Os Waiwai interagem com estes seres para construir o seu conhecimento e partilhar a agência do seu próprio mundo. Esses materiais, artefatos e seres compõem o que podemos chamar de cultura Waiwai. Eles são produzidos em trocas milenares e, portanto, estão em constante mudança, por isso persistem em acompanhar a trajetória desse coletivo ameríndio. Sabemos que o arco e a flecha já foram mais utilizados e ocuparam um lugar mais central nas trocas. Essa é uma transformação importante que pretendo abordar, pois envolve a história muito recente da convivência dos Waiwai com os "brancos" e suas mercadorias. Acredito que abordar esse processo de transformação do meu próprio mundo, para traduzir o que os próprios Waiwai pensam, fazem e dizem, será uma importante contribuição para a literatura especializada sobre a região das Guianas. Mas não é só isso, por ser Waiwai tenho um compromisso que me diferencia de outros antropólogos que realizaram pesquisas e produziram importantes teses e artigos sobre os Waiwai, quero dizer que este trabalho que estou produzindo é também uma tese para os Waiwai e também vou escrever os resultados da minha pesquisa na minha própria língua para que possa ser usado pelas escolas Waiwai como material didático. Sei que isso pode gerar muitas perguntas dos colegas antropólogos, mas estou disposto a responder o que for necessário para caraterizar o meu trabalho no contexto de inovação para o desenvolvimento da própria antropologia.

Não há registros que detalhem o arco e a flecha e os significados desses elementos para os Waiwai. Desta forma, esta pesquisa é importante tanto para o meio acadêmico científico, como parte do interesse pela antropologia, quanto para a população Waiwai em geral. Essa combinação de informações pode nos ajudar a contar parte de nossas histórias antigas e de diferentes grupos de pessoas que viveram em diferentes lugares e regiões geográficas. O procedimento para a realização desta pesquisa será através dos processos e ferramentas produzidos na academia, bem como um pouco da academia Waiwai para a formulação da tese, através de conversas, memórias, entrevistas, acompanhamento da produção e usos, diálogos com diversos interlocutores especialistas Waiwai sobre o arco e flecha e todas as conexões materiais e imateriais com os demais seres e elementos da floresta.


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